O aumento das zonas urbanas,
atractivas em termos de comércio, serviços, indústria, tem levado ao longo dos
anos a uma grande pressão urbanística, de forma rápida com vista à obtenção de
dinheiro na urbanização, quer por parte dos Municípios (licenças de
urbanização, construção), quer dos particulares (venda dos lotes, fogos). O
planeamento adequado do território fica para segundo plano, assim como as
infraestruturas, onde não existe uma visão integrada.
Constrói-se em solos ricos e
próprios para a agricultura, menosprezando-se os serviços dos ecossistemas na protecção
do solo, na protecção das zonas de cheias, na conservação da biodiversidade. A
área verde, apesar de ser cada vez mais essencial à vida na cidade, é assim
menosprezada e quando existe é votada ao abandono e à sua fragmentação que impossibilita
um continuum naturale essencial à manutenção das espécies vegetais e animais. Em
Portugal o maior crescimento urbano deu-se a partir dos anos 30. Apesar dos
diversos surgidos desde esta data, como o Plano Geral de Urbanização de 1934 ou
os Planos Gerais de Urbanização e Extensão de 1944 ou mesmo o Plano Diretor de
Lisboa de 1948, que apelavam ao embelezamento das cidades, à introdução de
vegetação e sol, com um carácter ambiental profundo, a verdade é que as nossas
cidades não cresceram de forma harmoniosa, de facto Lisboa e Porto e mesmo as
zonas litorais apresentam os valores mais baixos de área verde por habitante da
Europa. A partir do pós-2ª-guerra o controlo da urbanização por parte da
Administração diminui drasticamente, exercendo apenas a competência no
licenciamento. A partir das décadas de 50 e 60 o Estado constrói habitação
social ou comparticipada mas a construção de habitação passa a ser de
iniciativa privada destinada ao mercado livre, dependentes do licenciamento dos
municípios.
A urbanização promovida
pelos loteamentos privados não resultava do planeamento mas sim da
disponibilidade de solos, de que resultava um máximo de densidade de construção
e um mínimo de equipamentos colectivos, espaço público ou espaços verdes.
Com o retorno de portugueses
das ex-colónias portuguesas, que ascendeu a mais de 600 mil portugueses, houve
carências de habitação e emprego. Os particulares mantiveram a liderança na
construção em localizações determinadas pela propriedade do terreno e não pela
sua adequação do solo à edificação. Surgem os planos de urbanização num esforço
de harmonizar os espaços edificados, mas sem resultados práticos. É na década
de 70 que surgem grandes loteamentos no Concelho de Sintra, infelizmente
conhecidos além fronteiras pelo mau exemplo de falta de ordenamento. Falo por
exemplo da Tapada das Mercês e da Agualva, entre muitos outros. Passados mais
de 30 anos são estas localidades votadas a tentativas de requalificação.
A Lei de Bases do Ambiente
(Lei nº 11/87) vem criar o conceito de “contínuo natural” que será em 2005
corroborado pela Convenção Europeia da Paisagem (Decreto 4 de 14 de Fevereiro).
A biodiversidade urbana remete para este conceito, para a necessidade de criar
áreas urbanas mais verdes, logo, mais saudáveis.
O Concelho de Sintra não é
exceção e muita atenção tem sido dada à biodiversidade. Falo agora de vários
instrumentos de ordenamento que têm a sua acção sobre este Concelho e que estabelecem
regras respeitantes aos espaços verdes e consequentemente à biodiversidade.
Plano
Regional de Ordenamento do Território-Área Metropolitana de Lisboa
Estabelece a necessidade de constituição
de uma rede ecológica fundamental de corredores e ligações ecológicas. Investir
na manutenção das linhas de água superficiais no seu estado natural. Criar e
dar origem a espaços urbanos mais qualificados e ambientalmente mais eficazes e
sustentáveis, investindo na criação de espaços públicos e espaços verdes
urbanos.
Plano
Diretor Municipal
A aglomeração urbana no
Concelho de Sintra abrange 4870 hectares, constituídos pelas bacias
hidrográficas do Rio Jamor, Ribeira de Barcarena/Jardas, Ribeira de Laje e
Ribeira de Caparide, com vales com orientação Norte-Sul dirigidas ao Tejo. O
Concelho de Sintra, a ocidente da Área Metropolitana de Lisboa, tem cerca de
32.000 hectares com limites a norte com Mafra, a sul com Cascais e Oeiras, a
nascente com Amadora e Loures e poente com o Oceano Atlântico (cerca de 25
quilómetros de costa). Situa-se no extremo de linha com a direcção Nordeste-Sudoeste
formada pelas Serras de Aire, Candeeiros e Montemuro, que culmina com o maciço
da Serra de Sintra.
O PDM em vigor propõe uma ligação contínua entre a Serra de
Sintra e a da Carregueira. Faz uma alusão à necessidade de salvaguardar o
património natural do Concelho, garantindo canais de reserva ecológica
decisivos, promovendo o combate à poluição dos sistemas hídricos, melhorar os
níveis de ruído. Propõe a qualificação de parques urbanos, parques lineares e
cunhas verdes de acompanhamento da rede hídrica viária de forma a ampliar o
elemento vegetal. Delimitação e ampliação de pequenas massas florestais, a
interligação necessária entre o edificado e o verde que se pretende aumentar.
Plano
Estratégico do Concelho de Sintra Face às Alterações Climáticas,
elaborado pela Fundação da FCUL, esta área geográfica será muito afetada por
este fenómeno. Espera-se que a zona mais afetada seja a zona interior,
nomeadamente a Serra da Carregueira, uma vez que não beneficia do efeito
atenuador climático do oceano. Os ecossistemas sob stress serão os mais
afectados pelas alterações climáticas, é o caso de algumas linhas de água que
actualmente secam durante um curto período de tempo no Verão. Estas linhas de
água alojam formações de vegetação muito importantes, funcionam como sistemas
depuradores das águas pluviais e têm alta produtividade primária, mas também
são importantes corredores biológicos, tanto a nível transversal (entre o
ambiente aquático e terrestre), como longitudinal (entre diferentes habitats),
ajudando ao estabelecimento de novas comunidades e aumentando o sucesso
migratório das espécies. O efeito das intervenções humanas (e.g. construção de
estradas, drenagem, poluição acumulada) somado à diminuição da precipitação no
Verão, pode afetar este tipo de ecossistemas bem como a riqueza específica. Os
corredores verdes são fundamentais para a adaptação às alterações climáticas,
propondo-se a preservação de importantes sistemas húmidos onde se incluem as
linhas de água e uma faixa de protecção de 10 metros porque podem funcionar
como dispersantes animais e vegetais.
Plano
Estratégico Sintra 2015
O destaque deste plano
incide na conservação da natureza como forma de fazer face às alterações
climáticas. Tem como medida principal requalificar os espaços verdes existentes
e criar novos espaços, com especial incidência nas áreas urbanas com elevada
densidade populacional e problemas ambientais e socio—económicos. Incentivar a
manutenção das áreas agrícolas do Concelho, porque poderão servir como
corredores verdes essenciais à dispersão animal e vegetal. Manter e dinamizar
as quintas e hortas urbanas do Concelho, associando-as a actividades pedagógicas.
Plano
Municipal do Ambiente
Consolidar uma nova cultura
de planeamento e gestão territorial para o Concelho de Sintra. Criar uma
estrutura verde urbana. Definir uma rede de corredores verdes equipados para
usufruto da população. Divulgar e promover a estrutura ecológica junto da
comunidade. Preservar e valorizar manchas florestais e matos. Criar uma rede de
informação sobre ambiente e cidadania. Organizar acções de formação e
sensibilização ambiental.
Plano
Verde do Município de Sintra
É o componente do PDM que
confere sustentabilidade ecológica e cultural ao território municipal,
contribuindo para um planeamento sustentável do território. Este plano criou
uma Estrutura Verde Municipal como estratégia de adaptação às alterações
climáticas que foca a importância no continuum natural. Desta estrutura fazem
parte:
- Estrutura Ecológica
Fundamental (REN, RAN, Diretiva Habitat);
- Estrutura Ecológica Urbana
(vazios do espaço edificado), onde se incluem:
. Corredores entre aglomerados:
a) Corredor
Monsanto-Serra de Sintra (ao nível da AML);
b) Corredor
de Manique (sopé S-SE da Serra de Sintra);
c) Corredor
do Monte da Parada (entre Algueirão-Mem Martins e o Cacém);
d) Corredor
de Colaride (entre o Cacém e Massamá-Queluz).
Neste momento, o executivo
mudou pelo que o que atrás foi aprovado pode deixar de ser executado.
Atualmente, parece caminhar-se para o abrandamento da construção, motivada pela
crise económica e financeira que atinge o nosso país, e também, pela aposta na
reabilitação de áreas urbanas em detrimento de novas urbanizações. É no fundo
reabilitar o que já se estragou mas concedendo-lhe agora alguma qualidade,
esperemos que os espaços verdes não sejam esquecidos.
Bibliografia: